Monday, November 24, 2014

Por que eu uso referências fotográficas?

Fiz essa ilustração para o Marcelo "Saravá" Miazzi e seu blog Q&I Illustrated Interviews. Quebrei um pouco a cabeça pensando na resposta para a pergunta dele, "Qual é a maior vantagem de criar ilustrações a partir de referências fotográficas?" e acho que a minha resposta foi tudo menos óbvia. Eu sei que o certo seria eu deixar as interpretações a cargo do leitor, mas eu não resisto... e como ninguém lê esse blog mesmo acho que posso explicar aqui sem maiores preocupações ;)

Acho que o que me desencadeou o uso de referências fotográficas foi o esporro que levei do Neal Adams em minha primeira Comic Con em San Diego. Acho que muitas pessoas teriam desistido depois do que ele falou pra mim, mas acho que acabei encarando de outra forma e resolvi aceitar o desafio. Comecei a fotografar algumas coisas antes de desenhar, cheguei a fazer uma história de uma página onde utilizava apenas mãos para contar uma história, o que era um belo desafio para qualquer desenhista iniciante visto a dificuldade que muitos tem em desenhar mãos. Continuei nesse caminho por um tempo, buscando referências e muitas vezes produzindo as minhas próprias para ajudar na anatomia e luz e sombra, mas acho que comecei a utilizar referências fotográficas mais ou menos da forma que eu utilizo hoje no último ano da faculdade (Desenho Industrial na Belas Artes de São Paulo).

Comecei xerocando imagens de revistas nas aulas de ilustração do Luiz Bagno, onde experimentei com monotipia, frotagem entre outras técnicas, mas logo eu estaria produzindo minhas próprias referências para aquarela e pastel. Nessa época eu cursava o terceiro ano do curso de HQ na Fábrica de Quadrinhos e não demorou muito para que eu começasse a utilizar a técnica nos projetos desenvolvidos em aula. O curso de Quadrinhos ministrado pelo grande Octavio Cariello consistia basicamente em  nos apresentar briefings que nos obrigava a sair um pouca de nossa zona de conforto para desenvolver projetos para nossos clientes fictícios.

Se não me engano a primeira tentativa foi na história "Sábado a Noite na casa do Brito", nesse projeto não podíamos desenhar, simples assim... minha primeira ideia foi trabalhar com frotagem, técnica que havia gostado bastante nas aulas de ilustração do Luiz, mas devido a "n" fatores (entre eles o fato de eu ter esquecido de inverter as fotos antes de montar a página e fato da cópia ter sido feita com uma qualidade bem ruizinha) tive que mudar tudo... acabei trabalhando com manipulação de foto mesmo, fazendo uma fotonovela com várias pirações e efeitos que ajudaram a contar a história, mas embora eu tenha gostado da brincadeira eu acho que ainda estava muito longe do resultado que eu desejava. Acho que se fosse fazer ele hoje teria insistido na frotagem, feito quadro a quadro e editado tudo no computador depois, mas eram outros tempos ;)

O próximo passo foi "Sonho de uma Noite na Taverna", uma história onírica onde misturei praticamente tudo que sabia naquela época... aquarela, monotipia, guaxe, aerografiia e fotografia (porque eu quebrei minha mão no processo). A versão final que foi publicada anos depois no fanzine Orbital saiu preto e branco mas sem fotos. Esse é um daqueles projetos que ainda penso em revisitar e fazer tudo de novo, utilizando só a ideia original mas trabalhando de forma bem diferente.

Na sequência resolvi aproveitar o Bum da internet (sim, estamos falando do começo do século) e refiz uma história antiga chamada "Feio pra Diabo", produzida durante um curso de fanzines que havia feito com o Sam Hart para um site que estava pagando por web comics. Resolvi aplicar algumas das técnicas que havia utilizado na "Sonho de uma Noite na Taverna" misturei mais algumas coisas aqui e ali e... não consegui vender a história, por que o site parou de publicar HQs... cheguei a adaptar e colorir a história a Dragão Brasil um tempo depois, mas pouco antes de disso havia rolado um assassinato que foi associado a jogadores de RPG e eles acharam minha história meio pesada para a época. Any way, a história foi publicada anos depois na Front Morte.

O que nos traz à gênesis do Ozman. O personagem nasceu como um vampiro metido a vigilante que matava criminosos no melhor estilo Justiceiro e, embora eu tenha escrito muita coisa e desenhado pouca, cheguei a publicar algumas histórias no fanzine Defeito de Fábrica e na coletânea Miscelânea da Nona Arte.Acho que nesse ponto meu estilo estava meio que encaminhado e que as referências fotográficas faziam parte desse processo.

Nos anos seguintes ilustrei vários livros de RPG para a Editora Daemon, ilustrei alguns livros infanto juvenis para a FTD, ilustrei o Fantasma de Canterville para a Nobel, mas as coisas não iam bem no quesito quadrinhos... Fiz uma HQ sobre a Guerra de Troia para a Devir (que nunca viu a luz do dia), depois fiz uma HQ com roteiro do "Dr Careca" JM TRevisan que fazia parte de um projeto chamado High Falls (que também nunca foi publicada) e por fim desenhei o Tarcísio Meira como o Vampiro Bóris Vladesco de "O Beijo do Vampiro" em um trabalho que me custou um namoro e um pouco do meu tesão pelos quadrinhos que demoraria alguns anos para retomar.

Depois disso, fiz alguns samples de personagens para apresentar nas vezes que retornei a San Diego, um monte de ilustrações para mim mesmo publicadas aqui no blog e me foquei em trabalhar com web design e produtos licenciados por um tempo... cheguei a publicar uma história de uma página no Front Ódio onde já estava trabalhando diretamente na tablet, mas ainda com minha "Pen Partner" velha de guerra e depois fiz a "Lado A, Lado B" com roteiro do Daniel Esteves para a Front Música, que infelizmente também nunca viu a luz do dia (também). No link sobre a "Lado A, Lado B" eu conto melhor essa história, mas acho que o mais importante é o fato que ela foi a primeira HQ que fiz inteiramente na Cintiq, e acho que esse foi meio que um turnig point pra mim.

Todas as experimentações desde as aquarelas da época da faculdade, às frotagens com ajuda do Caribé para o "Meu Negro Amor" e todos os testes de brushes no photoshop, fosse com a Pen Partner ou com a Cintiq resultaram na Ozman Nemesis ano passado, uma HQ que levei quase dez anos "produzindo". Uma das grandes recompensas disso foi a Dulce Veiga (que eu espero muito que saia ano que vem!!!) e parece que as peças do meu quebra cabeça estão finalmente se encaixando.

Mas acho que com tudo isso eu ainda não respondi a pergunta do Saravá, né? Lembram, lá em cima? "Qual é a maior vantagem de criar ilustrações a partir de referências fotográficas?" Bom, em partes, acho que eu gosto de brincar e distorcer a realidade sem me distanciar muito dela, mas para isso eu não precisaria de necessariamente trabalhar com referências fotográficas, né? Pois é, mas acho que o que começo com uma praticidade no sentido de me desenhar é sempre mais fácil pois eu sou o modelo que está sempre à disposição acabou virando uma certa constante no meu trabalho, e acho que o principal motivo para isso se deve ao fato de eu ser um leonino, egocêntrico com complexo de Dorian Gray. E esse dai sou eu, com costeletas que eu já aparei, tatuagens, meu Mjölnir, um bastão de Galdir, símbolos nerds, de magia e vida.

Acho que esse é o texto mais longo que escrevo em muito tempo por aqui, mas foi legal até para colocar as coisas em perspectiva. Acho que seria um ótimo post de final de ano, depois da Comic Con Experience e com os projetos de 2015 mais encaminhados, mas tudo bem, essa semana tenho pelo menos mais um post com um esboço que fiz junto com a Amidala. By the way o show do Dropkick Murphys ontem foi FODA!!!

Humor: bom
Ouvindo: The Dirty Glass (Dropkick Murphys)
Lendo: Necro Morfus
Assistindo: Homeland
Jogando: Injustice
Comendo: muffin
Bebendo: Fraputino de café com menta
Na net: How Guardians of the Galaxy Should Have Ended

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